terça-feira, 25 de maio de 2010

CAMPBELL e MOYERS - Mitos

Alhambra- teto da sauna

Mitos e sonhos vêm do mesmo lugar. Vêm de tomadas de consciência de uma espécie tal que precisam encontrar expressão numa forma simbólica. E o único mito de que valerá a pena cogitar, no futuro imediato, é o que fala do planeta, não da cidade, não deste ou daquele povo, mas do planeta e de todas as pessoas que estão nele. Esta é a minha idéia fundamental do mito que está por vir.

E ele lidará exatamente com aquilo com que todos os mitos têm lidado – o amadurecimento do indivíduo, da dependência à idade adulta, depois à maturidade e depois à morte; e então com a questão de como se relacionar com esta sociedade e como relacionar esta sociedade com o mundo da natureza e com o cosmos. É disso que os mitos têm falado, desde sempre, e é disso que o novo mito terá de falar. Mas ele falará da sociedade planetária. Enquanto isso estiver em curso, nada irá acontecer.

MOYERS: Então você sugere que daí começará o novo mito do nosso tempo?

CAMPBELL: Sim, essa é a base do que o mito deve ser. E já se encontra aqui: o olho da razão, não da minha nacionalidade; o olho da razão, não da minha comunidade religiosa; o olho da razão, não da minha comunidade lingüística. Você percebe? E esta será a filosofia do planeta, não deste ou daquele grupo.

Quando a Terra é avistada da Lua, não são visíveis, nela, as divisões em nações ou Estados. Isso pode ser, de fato, o símbolo da mitologia futura. Essa é a nação que iremos celebrar, essas são as pessoas às quais nos uniremos.




A mim, Virginia, agrada muito essa idéia dos mitos cósmicos, da realidade planetária. Afinal, somos seres das estrelas!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Joseph Campbell em entrevistas com Bill Moyers

O Mito e o Mundo Moderno

Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos.

* * *

MOYERS: Por que mitos? Por que deveríamos importar nos com os mitos? O que eles têm a ver com minha vida?

CAMPBELL: Minha primeira resposta seria: “Vá em frente, viva a sua vida, é uma boa vida – você não precisa de mitologia”. Não acredito que se possa ter interesse por um assunto só porque alguém diz que isso é importante. Acredito em ser capturado pelo assunto, de uma maneira ou de outra. Mas você poderá descobrir que, com uma introdução apropriada, o mito é capaz de capturá-lo. E então, o que ele poderá fazer por você, caso o capture de fato?

Um de nossos problemas, hoje em dia, é que não estamos familiarizados com a literatura do espírito. Estamos interessados nas notícias do dia e nos problemas do momento. Antigamente, o campus de uma universidade era uma espécie de área hermeticamente fechada, onde as notícias do dia não se chocavam com a atenção que você dedicava à vida interior, nem com a magnífica herança humana que recebemos de nossa grande tradição – Platão, Confúcio, o Buda, Goethe e outros, que falam dos valores eternos, que têm a ver com o centro de nossas vidas. Quando um dia você ficar velho e, tendo as necessidades imediatas todas atendidas, então se voltar para a vida interior, aí bem, se você não souber onde está ou o que é esse centro, você vai sofrer.

As literaturas grega e latina e a Bíblia costumavam fazer parte da educação de toda gente. Tendo sido suprimidas, toda uma tradição de informação mitológica do Ocidente se perdeu. Muitas histórias se conservavam, de hábito, na mente das pessoas. Quando a história está em sua mente, você percebe sua relevância para com aquilo que esteja acontecendo em sua vida. Isso dá perspectiva ao que lhe está acontecendo. Com a perda disso, perdemos efetivamente algo, porque não possuímos nada semelhante para pôr no lugar. Esses bocados de informação, provenientes dos tempos antigos, que têm a ver com os temas que sempre deram sustentação à vida humana, que construíram civilizações e enformaram religiões através dos séculos, têm a ver com os profundos problemas interiores, com os profundos mistérios, com os profundos limiares da travessia, e se você não souber o que dizem os sinais ao longo do caminho, terá de produzi-los por sua conta. Mas assim que for apanhado pelo assunto, haverá um tal senso de informação, de uma ou outra dessas tradições, de uma espécie tão profunda, tão rica e vivificadora, que você não quererá abrir mão dele.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Oliver Sacks - Mãos


Oliver Sacks, brilhante neurologista, relata em O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, no capitulo intitulado mãos, o caso de Madeleine. É uma paciente de 60 anos, cega de nascença e com paralisia cerebral, vinda de uma família protetora. Apesar de seus problemas, ela falava fluentemente e não apresentava nenhum retardo mental, o que o surpreendeu. Era inteligente e muita culta. Perguntou-lhe se lia bem em braile e ela disse-lhe que não, que sempre tinham lido ou gravado coisas para ela, pois suas mãos eram massas imprestáveis e que ela nem acreditava que faziam parte dela.


Acompanhando a paciente ele percebeu que apesar de não ter nenhum dano na sensibilidade das mãos, ela não reconhecia ou identificava nada com suas mãos. Ou seja, ela tinha o potencial, mas não a capacidade. Ela não integrava às sensações às percepções. Pelo fato de nunca ter usado suas mãos para ir ao banheiro, comer, pegar qualquer coisa, ela não percebia nem atuava com suas mãos, era como se não as tivesse. Questionou-se se isso teria ocorrido pela ausência dos movimentos exploratórios normais que surgem nos primeiros meses de vida. Se fosse esse o caso, ela conseguiria adquirir aos 60 anos de idade o que deveria ter aprendido enquanto bebe?


O grande desafio era a ação. Então, um dia que a comida ficou um pouco distante dela, ela, faminta, estendeu o braço e pegou uma rosquinha. Essa foi sua primeira percepção, o primeiro ato, que abriu uma fome de exploração ainda maior. Graças ao seu nível intelectual, rapidamente passou a reconhecer objetos, com uma curiosidade vivida, um imenso prazer de descobrir um mundo cheio de encanto, beleza e mistério. Dos objetos passou às pessoas, explorando seus rostos em repouso e em movimento. Logo passou a modelar argila e tornou-se uma artista conhecida no local por suas figuras.

“Que maravilhosa possibilidade de aprendizado tardio, de aprendizado para os incapacitados, isso abria! E quem teria sonhado, que naquela mulher cega e paralítica, escondida, desativada, superprotegida toda a sua vida, vivia o germe de uma espantosa possibilidade artística (ignorada por ela e pelos outros) que germinaria e floresceria em uma rara e bela realidade, depois de permanecer adormecido, definhando por sessenta anos?”

Considerações Pessoais:
Neste texto do Sacks, é demonstrado de maneira extrema um dos princípios que mais me encanta em Milton H. Erickson. Ele acredita na infinita capacidade do ser humano de fazer o melhor com o que estiver ao seu alcance. Na capacidade de superação das dificuldades. Na capacidade de aprendizado inerente ao ser humano.

Também me questiono como temos criado nossos filhos, protegidos em nossas confortáveis barrigas-canguru, sem que descubram neles as potencialidades, habilidades e talentos inatos. O que será que tem passado despercebido neles, como passou em Madeleine, por simples falta de uso? Ou em nós mesmos?
Em minha experiência clínica tenho encontrado pessoas maravilhosas que lidam de maneira original e criativa com a resolução de dificuldades. Pessoas que tem encontrado dentro de si mesmo tesouros incalculáveis nessa maravilhosa aventura que é a vida e seu viver.


Quando leio os relatos clínicos de Oliver Sacks, vou me dando conta de como somos seres perfeitos. Podemos, por ter sempre sido assim, nem realizarmos toda a maravilhosa engrenagem que colocamos em funcionamento simplesmente ao abrir os olhos pela manhã e nos levantarmos, realizando as atividades rotineiras e cotidianas com as quais estamos habituados. Seus relatos me fazem agradecer o fantástico do ser simplesmente humano!

Terapia Estratégica - Observação




Na terapia estratégica ou Ericksoniana, não existe julgamento, uma vez que não está embasada em nenhuma teoria de como deveria ser, não há certo e errado. O que existe, em cada indivíduo e ao meio ao qual pertence. familiar, profissional, social e etc, é um sistema de funcionamento, que pode ser eficiente ou não em alguns contextos.



A grande máxima de Milton H. Erickson é observe! Observe, detalhadamente, curiosamente, como funciona o individuo. Como interage com as pessoas, como se relaciona consigo, como traça suas metas, como busca atingi-las. Observe quais são suas habilidades e capacidades. Observe quais são os aspectos que precisam ser melhor desenvolvidos. Observe o que não é dito, o que brilha pela ausência. Observe, observe e observe ainda mais. Por isso, é uma terapia feita sob medida.


Observando o individuo evidenciam-se as estratégias de cada um. As vezes pequenos ajustes nesta estratégia produzem resultados incríveis, como uma pedra de dominó que ao cair derruba todas as outras. Pequenas mudanças podem levar a grande mudanças. Ao observar os padrões que se repetem, seja nos relacionamentos com o(a) parceiro(a) amoroso(a), seja na forma de lidar com mudanças que a vida proporciona, seja nos sucessos e fracassos, nas doenças, etc, podemos descobrir muito sobre o script que estamos desempenhando e se ainda queremos mantê-los.


Com isso, permita-se ser agradavelmente surpreendido por você mesmo(a), tendo atitudes, pensamentos e comportamentos que te façam ser simplesmente quem você é, com muito orgulho e satisfação!

domingo, 9 de maio de 2010

O encontro de duas pessoas é como o contato de duas substâncias químicas: se houver alguma reação, ambas serão transformadas.

Jung

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Ernest Rossi



Um dos maiores seguidores de Milton H. Erickson. Tem um curriculum vitae invejável. Por sua formação e participação no Instituto C. G. Jung de Los Angeles é também conhecido como Jungueano/Ericksoniano. Vem daí minha admiracão crescente. Seu trabalho está em plena expansão. Suas dedicatórias são famosas por conterem uma pergunta a quem é dedicado o livro. Para saber mais dessa pessoa notável:

http://www.ernestrossi.com

No site, está disponibilizado este livro para download, em várias linguas. Vale a pena!

Título: A Nova Neurociência da Psicoterapia, Hipnose Terapêutica e Reabilitação- Um Diálogo Criativo Com Nossos Genes

Autor: Ernest Rossi, Ph.D. and Kathryn Rossi, Ph.D.

Traduzida por: Maria Lúcia Lacal Cox D’Avila

“Confie no seu inconsciente. É uma maneira deliciosa de se viver, uma maneira
deliciosa de conseguir coisas”.

Milton H. Erickson