quarta-feira, 28 de julho de 2010

Joseph Campbell

'' O problema, na meia idade, quando o corpo atingiu seu poder máximo e começa a declinar, é identificar-se, não com o corpo, que decaí, mas com a consciência de que ele é um veículo, Isto é algo que aprendi com os mitos. Que sou eu? Sou a lâmpada que contém a luz ou sou a luz de que a lâmpada é o veículo?

domingo, 25 de julho de 2010

Roland Barthes - Fragmentos de um discurso amoroso



"Estou preso nesta contradição: de um lado, creio conhecer o outro melhor do que ninguém e afirmo isso triunfalmente a ele ("Eu te conheço. Só eu te conheço bem!"); e, por outro lado, sou freqüentemente assaltado por essa evidência: o outro é impenetrável, raro, intratável; não posso abri-lo, chegar até a sua origem, desfazer o enigma. De onde ele vem? Quem é ele? Por mais que eu me esforce não o saberei nunca.
(De todos aqueles que eu conhecera, X... era certamente o mais impenetrável. Isso porque não se sabia nada sobre o seu desejo: conhecer alguém não é apenas isso: conhecer seu desejo? Eu sabia tudo, imediatamente, sobre os desejos de Y...: ele era como "um gato escondido com o rabo de fora", e eu ficava inclinado a amá-lo não mais com terror, mas com indulgência, como uma mãe ama seu filho.)
Reviravolta: "Não consigo te conhecer" quer dizer: "Nunca saberei o que você pensa verdadeiramente de mim". Não posso decifrar você, porque não sei como você me decifra.
Se desgastar, se esforçar por um objeto impenetrável é pura religião. Fazer do outro um enigma insolúvel do qual depende minha vida é consagrá-lo como deus; não decifrarei nunca a pergunta que ele me faz, o enamorado não é Édipo. Só me resta então converter minha ignorância em verdade. Não é verdade que quanto mais se ama, mais se compreende; o que a ação amorosa consegue de mim é apenas uma sabedoria: não tenho que conhecer o outro; sua opacidade não é de modo algum a tela de um segredo, mas sim uma espécie de evidência, na qual fica abolido o jogo da aparência e do ser. Experimento então essa exaltação de amar profundamente um desconhecido, que o será sempre: movimento místico: tenho acesso ao conhecimento do desconhecido.
Ou ainda: ao invés de querer definir o outro ("O que é que ele é?"), me volto para mim mesmo: "O que é que eu quero, eu que quero te conhecer?". O que aconteceria se eu quisesse te definir como uma força, e não como uma pessoa? E se eu me situasse como uma outra força diante da tua força? Aconteceria o seguinte: meu outro se definiria apenas pelo sofrimento ou pelo prazer que ele me dá. "

Roland Barthes (Cherbourg, 12 de Novembro de 1915 — Paris, 26 de Março de 1980) foi um escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês.